sexta-feira, 6 de agosto de 2010

FOLHA SECA


Meu nome é Tião, dizia meu cumpadre, fisofando, que apesar da vida ser marvada, mesmu sim é muito boa pra gente.

Graças a Deus ! Ganho minha vidinha honestamente e tenhu plantadu na minha terrinha, pezinhos de feijão, verdurinhas, frutinhas e outras mudinhas.

Ah ! Craru, não pudia isquecê dos meus porquinhos e também da Jovenilda, minha vaquinha formosa.

Jovenilda é tão jeitada, que inté minha muié, braba feitu cobra cascavel, sente ciúmes. Eta ciúmes bobo sô ! Vaquinha pra mim, merece todo meu respeitu e consideração.

Quando a patroinha não tá, Jovenilda fica dando mole pra mim. E neste rincão, com somente eu e a muié, uma vaquinha pode inté ter otras utilidades, né ? Aí de mim si ela sabe, me quebra feito mio no pilão.

Pare com isso Tião, não pega bem e dispois se vira coisa séria ? Tá que ocê se paixona, aí lascou tudo ! Vou ficar mesmu é no torresminho, que tá mir de bom.

Dias desses pareceram qui uns zomi oferecendu uma tar de internet, internet !? Minha muié, Ohhh! Mardita hora, perguntou si era de cumê, o rapaz muitu guinorante e trevidu, olhou pra ela e disse: Banda Larga.

Foi intão que oiei firme feito onça nos zóio dele, porque não sou di levar disaforu di nenhum cabra, farta de respeitu não dimitu mesmu e disse:

- Bunda Larga é a vaca da sua mãe, seu safadu ! E botei eles pra currer. Curreram tantu que parecia sacacura no banhadu. Taí um bichinhu dificir de pegar, mais bom di cumê.

Quando chega à noitinha, gostu dí escuita os bichu da noite e de fuma meu cachimbinhu, com uma erva instranha que meu primu trouxe da cidade grandi de presente.

Ele mi expricou, mais não intendi direito, que dá barato ! Ainda bem, pensei que era caro, afinar de contas, tudo que é da cidade, sempre custa o zoio da cara.

Meu primu, muito generusu, trouxe um montão e deixou tudo pra mim.

- Tá Tião, tenho mais em casa, esse é pra você, faz bem e acalma.

- Brigadu primu, tô precisandu, andu perreadu com coisas do sitio.

Curiosu, feito raposa, acendi e fumei tudinho, não sobrou nem um toquinho.
Rearmente me deu uma carmaria que só, daquela de ficar entediadu, mais no finar achei divertidu. A lua ficou mais lumiada e as estrelas piscavam feito vaga-lume, dava inté pra tocar nelas.

Só não gostei quando a patroinha chegou, olhou pra minha cara e disse:

- Tá precisando ir no médico de zóio Tião, pois tá vermelhu feito um boitatá.

- Cruz credu muié ! Vire essa boca pra lá, foi a erva que o primu trouxe pra nois ! Disse que é um carmante naturar, pois o cházinho que cêfais não funciona mais, além du mais é barato. Tô até pensando em plantar essa novidade purqui, pra nóis ganhar mais um dinheirinho e mudar di vida, quem sabe ?.

Intão prantei um pezinho du negociu e com o tempu ele cresceu vistosu e formoso, tava bunitu de ce vê. Mais cumeçou mi dar muito trabaio, sabe ? A mardita da pivetada pulava a cerca pra roubar só as foinhas, vê se pode ? A tadinha ficava pelada que dava dó. Fiquei com raiva e não plantei mais.

Hoje tenho um vasinho só em casa e no finar da tarde eu e minha patroinha fumamos juntos algumas foinhas e ficamos esperandu a noite chegar, abraçados e dimirando céuzão que Deus criou, cada vez mais bonitu.

Eu ? Com o zoio vermeio, pois não gostu de médico e afinar de contas não tá ardendo, né !

Ela ? Quem diria, ficou carminha, carminha comigo, não brigua mais.

Nois ? Levamos a vida como Deus quisé

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